terça-feira, 23 de março de 2010

Reação em cadeia

Quem nunca ouviu empresários dizendo que Juiz de Fora é uma cidade ruim de se investir, que o mercado daqui é complicado? E os profissionais dizendo que não são valorizados devidamente?

Trazendo o exemplo de uma área que lido há mais tempo, as lojas de informática daqui se encontram numa situação incerta, por mais que não pareça. Sobram vagas e faltam profissionais. Há 5 ou 10 anos atrás, sobravam profissionais, que hoje estão com seu próprio negócio ou trabalhando de forma autônoma.

Mas o que aconteceu pra isso? Me abstendo de termos chulos, é falta de visão por parte dos empregadores. As vezes causada pela carga tributária que o empregador se sujeita, mas muitas vezes por falta de sensibilidade também.

A pessoa que gosta da área em que trabalha, busca se manter atualizado e mais qualificado sempre, seja com cursos, seja pesquisando. Porém, não são todos que se preocupam com isso, então o funcionário mais competente acaba tendo que resolver os piores problemas, na maioria das vezes sem ouvir um "obrigado", tampouco uma gratificação salarial.

Não precisa ser um gênio pra saber que ninguém aguenta tal condição por muito tempo, e logo percebem que trabalhar "por fora" vale mais a pena. Alguns dirão "muita gente confia mais em lojas", e eu respondo "não por muito tempo". Na parte de atendimento e vendas elas estão errando feio, propositalmente até.

Uma amiga procurava um roteador wireless e um vendedor estava empurrando um de tecnologia N. Tecnologia que ainda não está finalizada (por isso o termo "draft (rascunho) N" 2007 ou 2009) e que para ser aproveitada ao máximo precisa que o computador na rede também tenha placa desta tecnologia, o que somente uma minoria tem, já que a placa é relativamente cara e a maioria usa ainda o padrão G, de 54mbps.

Segundo o vendedor, o roteador aumentaria a velocidade da internet dela em até 150"megas" e sequer se preocupou em saber o modelo do notebook dela e/ou se ele tem a placa correta pra isso. Pra começar, um roteador não aumenta velocidade da internet, ele distribui o sinal com e sem fio. Pra quem usa somente para internet e em curtas distâncias (o caso dela), um roteador G com antena de 5dbi já resolve 90% dos casos.

Se ela comprasse o tal roteador, iria na loja reclamar e o vendedor inventaria 1001 desculpas. Nunca mais voltaria lá e é claro, espalharia sua insatisfação e desonestidade do vendedor, que acaba queimando o filme da loja. Todos sabemos de alguém que foi enganado por lojas daqui, pessoas que hoje confiam no "cara que arruma o PC do amigo", que há alguns anos era o técnico que se matava nas lojas e hoje consegue ganhar muitas vezes mais o salário de antes, com muito menos problemas.

Já estamos num ponto em que mesmo as lojas honestas passam por dificuldades, por conta da estupidez das outras, que de tanto explorarem o consumidor, fizeram com que ele buscasse alternativas.

É um processo em cadeia: Bons profissionais trabalham por conta própria, devido a baixa remuneração as lojas só encontram mão de obra desqualificada que gera problemas e sujam o nome das mesmas. O consumidor insatisfeito busca alternativas e vê nos autônomos a relação mais humana, honesta. Serviços que lojas não fazem, atendimento de qualidade, poder lidar diretamente com quem fez o serviço sem ter que passar por um monte de ramais e musiquinhas até a ligação cair. E quem diz que cobram barato, se enganam. O consumidor está cada vez mais disposto a pagar mais por um serviço de qualidade. E pagam, sem reclamar.

Tal fenômeno hoje acontece com a maioria das categorias profissionais e vejo o mercado de informática entrando em colapso por aqui. Algumas lojas fechando filiais, outras diversificando atividades, e outras quebrando.

Estão afundando em um buraco que elas mesmas cavaram.